domingo, julho 06, 2008

A voz gultura na saída da garganta. Coberto nas sombras dos olhos cegos, sempre na escuridão; ela lembra do frio que lhe subiu pela espinha ao encontrar o brilho do olhar branco leitoso que marcava a pele negra. Ela viu o demônio, uma caveira de cores opostas, lendo sua alma e seu destino, traçando seu futuro com um sorriso. As mãos dele repousavam sobre a mesa, dedos grandes e pesados, um violão velho contra as pernas de madeira da cadeira, um copo de cerveja que marcava círculos no tampo da mesa enquanto suava. Dezenas de círculos velhos desbotados, presos uns aos outros, na madeira velha, como o plano de pouso de alienígenas.

Eu bebo, ele falou capturando o pensamento dela pelo cheiro, porque preciso. A voz dele arranhava profunda, esparramando como lava que tinha que vir do centro da terra até brotar do chão, onde solidificava e endurecia, cheia de seriedade. As mulheres, o demônio baixou a cabeça, quase pousando o queixo sobre os círculos de suor da bebida, bebem porque querem; bebem porque a bebida fá-las quentes, o interior de suas bocas macias e úmidas, concede-lhes gosto de surrealidade e línguas de inconsciente que flutuam como sonhos.

Ele engasgou uma risada. As sobrancelhas curvaram em consciência do que falava, para quem falava e o riso tossido espantou o cheiro do enxofre.

É por isso que não deveis beber, nunca. É uma coisa terrível fazer homens apaixonarem-se por vós.

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