sábado, junho 28, 2008

enough is enough

Mormente fosse, à palavra, qualquer coisa de intrínseca - quiçá de verdade -, não seria sobre um desfiladeiro de espinhos que pés repousariam sem sandalhas. Vilipêndias ácidas despontam da língua - que você conhece o sabor -, escorrem em colossos de rios afluentes em linhas retas de papel plácido, do pulso que contorce as mãos d'um poeta de pernas tortas em riscos de anarco-garranchos grafitais.

Amiúde a paixão seja terra, quem dera o amor - ao menos o nosso - fosse civil. Melhor, uma fera incivilizada de voracidade contra o concreto, do controle legislativo, executivo, judiciário, que é colorido de sua atonal monocromase de tédio pelas obsoletas palavras - que já eram, em Camões, as mesmas, logo fí-las pelas teias de significados que nelas repousam infinitas - destemperadas pela narcolepsia que apaga a noite. É obsceno, ou assim serias se fosse, o assombro cervical do sepultamento daquelas tão gastas, angularmente refletindo em'inha gramática no terror atemporal do mesmo erro - do peito aberto e da grafia, embora mais de um do que de outro -, de três palavras, as mesmas três, do trinômio divino que emoldura os portões do inferno; Não há paz.

O tremor que hibernava irrompe do pânico, liberta a preguiça hiperbólica, a timidez condescendente, o trêmulo contato elétrico do não-toque atômico. Tudo, enfim. Tudo até onde a experiência estética - e a má viagem ácida - finda, tal presa ao sussurro de sinapses desnorteadas, que o coro sônico do silêncio é sinfonia cacofônica no ebóreo salão veneziano da minha cabeça porém inaudivelmente surdo fora. Ele não punge coração algum. Troveja apenas rajadas brutais de frio cybernético, brisa de violência cyberpunk, espasmos inquietos de ventre viciado e babilônico fluir venenoso de cybermorte. Venha-me a carne do andróide.

domingo, junho 22, 2008

carta aberta

Eu convidei todo mundo que eu conheço para sair.
Menos você.

Foi o melhor que eu consegui pensar como vingança.



Mas eu ainda estou em casa.

domingo, junho 15, 2008

meias palavras meio bêbadas.

Eu ouvi toda aquela merda que vocês cantavam. Sabe, as paredes do banheiro são tão finas. E eu não gostei muito, mas era simpático, eu acho. Eu tenho achado muito ultimamente. Eu tenho vivido essa vida de achados, interpretando um desses leitores de cartas de tarot, mergulhado até o joelho em todo o tipo dessas coisas místicas, embora tenha quase certeza de que eu sou totalmente cínico... espera, cético?, sobre essas coisas. Ou talvez eu esteja apenas tempesteando um copo d'água, fazendo da minha incerteza uma questão de fé. Bela velha fé. Grande coisa, certo. Ok.

Eu não sei porquê vocês ficam voltando para essa música o tempo todo. Vocês estão procurando por algum tipo de iluminação? Digo, não pode ser isso. Ninguém escolhe um bar tão escuro assim pra iluminação. Ou é uma dessas coisas irônicas da vida? Tipo, eu acho - mais uma vez, mas não me culpem, a lua me olha como uma bola de cristal - que toda iluminação que você pode precisar está sob os lençóis certos, num bom momento. Mas toda a escuridão está lá também. E tem sempre mais escuridão do que luz, a não ser que o lençol seja velho e gasto e você consiga ver tudo mesmo quando ele está entre vocês; mas essa deve ser uma questão mais literal de fé, metaforicamente falando. Acho que a escuridão é sempre maior porque as chances de estragar tudo são sempre maiores, com toda essa propensão ao caos da física e dos átomos ou sei lá, então a luz brilha intensa nas nossas bocas piegas que acompanham nossos olhos de forma tão errática.

Eu nem sei mais, sabe. Eu nem ligo mais que vocês continuem cantando essa música, especialmente quando eu nem consigo mais ouvir direito. Ela não vai levar vocês para lugar nenhum mesmo. Nem eu vou levar vocês para lugar nenhum, não nesse estado. A peregrinação pelas ruas será da forma antiga, o penar religioso dos pés sobre salto alto altos demais para pagar por essa merda dessa música que não me esquece nem quando eu estou no banheiro, acertando a parede quando erro a mira, porque as minhas mãos tem que subir até as têmporas em súplica por silêncio. Então, sabe, eu acho que o silêncio seria interessante. Então, sabe, por que você não fica quieta por um minuto? Só pra ver como é. E, sabe, por que você simplesmente não cala a boca? Assim, cala a boca agora e eu prometo me envergonhar de formas nunca antes vistas e ouvidas e... e eu nem devia ter, isso, sabe. Com toda essa fermentação e tal. Em toda essa noite fria e tal. E estando vivo e tal.

E tal, sabe. Com a mesma música tocando de novo e de novo. Até até não.

quarta-feira, junho 11, 2008

the christianity of your virginity ou havana 2 ou incompleto 2

Ela levantou da cama, escapando das cobertas para o universo frio e distante que cercava a cama. O lençol deslizou do corpo para se amontoar no chão e revelar uma alvidez semelhante, e, debruçando contra a janela, ela olhava-o ainda sôfrego na cama, eclipsando a lua com o corpo que a fazia exalar uma auréola de luz como se banhada pelo próprio espírito santo. Os olhos tinham o mesmo brilho frio de tudo o resto quando chegava o inverno e ele ia longe no silêncio, farto na doçura do veneno que, ainda úmido escorrido no seu queixo, o queimava como gelo.

Você nunca me deu nada, ela lhe sorriu; sorriso porque o vento corria pelas suas costas.

Dei-lhe Paris, ele arrumava-se na cama desfeita, deitado sobre as costelas e repousando o sorriso-de-quem-contava-uma-história sobre o braço.

Paris fede a mijo e os franceses são terríveis. Voláteis, rabugentos, sensualmente cruéis.

Uma nação de mulheres.

Uma nação de selvagens em camisas bufantes.

Que lhe deram perfumes que a fizeram ter o cheiro de uma deusa.

Todos em pequenos frascos.

Eu sempre gostei do seu tamanho, falou jogando-se contra as costas e fechando os olhos para sussurrar, e a forma com que os lençóis sempre parecem repousar banhados de você por semanas subseqüentes.

O quê?

Ele respondeu abrindo os olhos, refletindo-a na íris.

Por que sempre me dá a impressão de que eu não ouvi a melhor parte?

domingo, junho 01, 2008

ahn

q

Edit:

Tomava uma caneca de plástico de nescau fumegante. A sua literatura literal me corroendo os músculos, criando um vácuo irritante no meio do umbigo que puxa toda a pele pros músculos e os músculos para os ossos e os ossos para eles mesmo, fazendo tudo muito magro, esticado, macilento, daquela forma que você pode ver cada célula se mover para provocar o movimento, elas cheias de força e ele tão sem vida.

O seu formalismo me cansando, quando eu nem sei o que escrever direito, então escrevo nada apenas para fingir que mais uma peça do quebra-cabeça do universo encontrou o seu lugar - e talvez tenha encontrado mesmo, num desses cantos do universo que são tão existencialistas que são vazios - e a paisagem vai se formando. E a paisagem é cheia de estrelas, mas nenhuma estrela nova brilha dessa vez, nenhuma estrela nova brilha essa noite, a luz ainda correndo desesperada pelo quantum para me dar um caldo como uma onda e me perfurar como uma partícula de granada dessas guerras que nós lutamos por idealismo.

E você se perde no meio do movimento. E eu me perco no meio do pensamento, quando a sua pele toca a minha mão - ou o contrário (embora eu duvidasse do contrário [embora eu duvidasse de tudo]) - e Michelangelo está no passado, tentando fazer o mármore ter a mesma suavidade, causar o mesmo tremor pela espinha, e ele está falhando; talvez por isso não se permite tocar as obras primas, para não perceber que as imperfeições dela esfacelam-se ao toque e tudo desanda, enquanto toca-se tudo o mais para a perfeição nascer desses mesmo farelos. Magnum Opus, quando a orquestra toca na minha cabeça o silêncio do espaço me sufoca, a luz finalmente atingindo a retina quando eu agradeço o último momento de lembrança e a sua literatura que me permite em contra-balanço congelar na estratosfera sem explodir.