sábado, dezembro 04, 2010

as estrias de maria

(de 04 de dezembro de 2008)

Estava, de fato, na perseguição implacável de um único momento retomado em'inha memória, de fogo fátuo, quando posta ao espelho alisava a recém-feita barriga. Tinha jeito suave de esticar a pele, correr pelas marcas, contornar as estrias com a ponta dos dedos. Desejosa, via nos olhos lágrimas que teimariam em brotar?, porém quieta, não me reclamava nada, sequer nada dizia; pelo contrário, entregava-se a isso sempre quando ia-me longe e a solidão caia-lhe como coberta ou proteção.

No deitar sobre o meu corpo, no abraço dos meus braços, quando fazia-me do ombro travesseiro ao reclamar de todo cansaço e sono dos dias, afastava minha mão quando era alcançada a barriga, cobria-a novamente com a camisa do pijama e pedia-me sossego. Cruel, cruel, ignorando a forma como me havia dedicação e saudade nas mesmas linhas que a desconfortavam, calava-me apenas pela beleza que ela apresentava, agora clara como das mais cristalinas; isso e pela marginalidade da minha adoração, quando ela dorme profunda e eu acordo, como que despertado por mágica, tamanha a pontualidade, e ergo quieto as cobertas, escapo pela camisa, e dedico um único beijo ao umbigo meu.

Era tudo muito secreto, de todo escondido. Havia, por isso, graça das maiores no quão sigilosos nós éramos. Silenciosos, porém, fazíamos do barulho um caos e, na minha furtividade, o murmúrio do mexe-mexe nas cobertas me sobressalta, e escapo antes que desate o escândalo. Debruçado sobre o berço, busco-a no colo quando ela arrisca um choro, co'esse jeito de se franzir toda tão puxado da mãe, mas se cala no meu abraço por mais um pouco, deixando o resto da casa dormir.