segunda-feira, julho 13, 2009

o romântico que não era

Ali! nem m'olhe assim de canto
não fui eu quem pus.
Alinha um c'os outros, pé com pé,
qu'assim dá (eu supus).
Ali, né? (quand'igo: supus errado)
- entra cabelo fino;
uma bela franja,
liso liso liso liso -
Ali, é. Aponta sempre mais longe
até que dá (e deu).
Ah, sim. Proximando em inspeção
- a boca pequena
bochechas grandes
olhos co'cantinhos -
ficou bonito, até.
Ahlindo (reticências) lindo lindo
(p'p'ponto) sabe o quê?
- quase uma estação
inteira de outono
passa em sopro seco
quieta e tímida
(metafórica) -
Assim, parece olhando daqui
sabe o quê? Ali?
- quase nu(m)a explosão
leitura de carbono
um sente atípico
na estação passada
(hiperbólica) -
um coração.
... mas veja só!

quarta-feira, julho 08, 2009

mil novecentos e 52

"Até algum tempo atrás, o nosso tempo era tanto que nem se ligava mais. Eu vejo hoje, com o verão nessa secura, que os cristais de sal das pedras nas horas de maré baixa tem mais integridade na estrutura do que eu."

Cinquenta e sete anos antes -- há fumaça, como hoje, do seu cigarro -, virado de copos a mais de vodka barata num casebre à beiramar, num silêncio de muito pouco significado, pensava ele na cabeça (ela, que vem no pensamento que segue, tem cabelo de caracóis marrons d'ébano - e quando põe na orelha uma flor amarela parece uma sereia, ou mulher dessas pelas quais se apaixonam - e olhinhos de mel; dorme, agora, profunda no sono dos trôpegos e a cabeça bem atravesseirada no peito dele): que tanto sono tanto só podia ser pros braços d'outro.

A noite tinha duas vezes o infinito de estrelas e o cigarro apagava, fumado de leve e constante pela brisa do sul que gelava o nariz, quando ele percebia duas ursas maior degladiando-se pelo mesmo espaço de céu -- os amores dele, que fluiam feito verso c'um cheiro de lavanda, estabacou-se num banco de areia, redemoinhou (era onde ele estava agora), e deu meiavolta para longe da praia.

Ela acordou, as bochechas rosadas de verão, com o céu à três doze avos acima do horizonte, uma canga florida sobre os ombros e amor nenhum por perto. O mar borbulhava-lhe de volta.

"Só se ama de verdade, acho que posso dizer hoje, os beijos de verão".