quinta-feira, julho 10, 2008

todas as coisas que duram pouco

Isso é bem errado na minha opinião
Mas imagine isso:
O deserto e é meio dia
e a areia do deserto é meio laranja
como se não fosse areia, como se fosse
o Grand Canyon que tivesse fragmentado
e a areia é meio laranja e tem aquele
efeito de aurora boreal quando bate
o sol nela do jeito certo, meio de lado
e tudo cintila e esse tipo de coisa.

E o sol não está nascendo, nem se pondo
mas ele está meio baixo no céu, sei lá,
como se ele se preparasse para voar
e o céu fica todo meio assim, dessa forma,
com as cores meio fora do que deviam.

Certo, aí tem os prédios que brotam
e eles não brotam, mas eles estão lá
sempre estiveram, sobre a areia
e eles são tantos e tão altos que é quase
como se não tivesse areia, mas há
só que tem asfalto também, e é noite
noite escura e densa, noite que se toca
e os prédios meio que acendem luzes
e tem placas de neon e sei lá mais o quê.

E você nem lembra mais do deserto, nem do sol,
quando você vê isso, certo? Mas ele está lá!
É isso que é tão errado na coisa toda.
O deserto e o sol aparecem toda vez, mas
eles não aparecem de verdade. Eles são uma
lembrança sua, uma imagem complementar,
que está lá quando você vê aquele homem andando.

E o homem usa essa coisa de tecido sobre o corpo
e ele tem um chapéu de cowboy, tudo negro.
E ele é tipo uma silhueta no horizonte, porque
todo mundo usa roupas coloridas e que tem aquele
brilho reflexivo estranho do neon, enquanto ele
enquanto ele é todo meio opaco, e anda lento
enquanto todo mundo voa com as motos pelo chão.

Aí ele levanta o braço bem lento, bem sem pressa
E tem uma arma na mão dele, um revólver antigo
tipo um Colt que dá um reluz mas parece enferrujada
E ele dispara - BAM! BAM! BAM! - e continua assim.
E daí você pode ver o relógio dar as badaladas da noite
E você pode ver as ondas de calor subindo da areia
Tudo isso junto com os motoqueiros despencando no chão
derramando sangue que jorra tão lindo tão lento
flutuando como um desenho, formando nuvens rubras
na vista em câmera lenta, até despencar em chuva,
chuva que é como uma das pragas que tenta libertar
toda a beleza dos nossos pecados, chuva que só caí
quando a próxima bala voa, e o chumbo dança
e canta assoviando no ar, explodindo em faíscas
e tudo tudo o mais está certo no universo, porque o sangue
vai entrar dentro da areia, e dela irão brotar árvores
de cerejeira, que darão flores na primavera.

Nenhum comentário:

Postar um comentário