sábado, fevereiro 28, 2009

de arquitetos e ferrugem

Ele compreendeu quase nada quando sopraram-lhe no ouvido -- e, não se enganem, ele não era mais do que um infante dos seus 5 ou 6 anos -- que era um arquiteto de gente. Parte pelos cheios de pequenos embolos da pronúncia da mulher, meia bêbada de metade sóbria paranóica, parte por não ter lá as maiores noções de rascunhos e fundações; a mãe em desvencilho brusco das garras da mendiga-profeta com suas próprias previsões de bocassuja para a carcaça velha na soleira cantou pranto quase oratório para que ele esquecesse o que lhe fora dito - ela sequer sabia, mas supôs maldição por força d'hábito [e maldição de fato era] - mas o estrago era impassível de reversão.

Anos e anos mais tarde, porém, mesmo num relance ele tinha essa imagem warchavchikiana de quem a pessoa exposta era, como fosse uma prancheta totalmente preenchida, regulada, reta e sem esconderijos; não era roubado, enganado, feito de bobo, nem nada nada de ruim. Ele estava sempre - feito quem tem em mãos a planta da construção -, passos e passos além dos outros homens. Logo, ele sequer frustava-se das insurpresas da vida, bem encaixado na máquina do mundo e empaturrado de sua própria sabedoria; e assim seria, não fosse os tropeços que se seguem.

Ele era, claro, dos maiores intelectuais do modernismo. Conhecia todas as pragas urbanas como as casas de Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Oscar Niemeyer e contemporâneos; era fruto inseparável da estática da cidade, como eram os males veneno extraído do concreto. Mas como estabalece-se o contraste sempre de forma inesperada - e ele era, nesse momento, tão aflitivo quanto verde-vermelho -, feito fonte orgânica em campo aberto bucólico, seu rascunho final foi descartado como inconstruções de Antonio Sant'Elia por uma fundação corroída, inexperada, encontrada feito coisa totalmente nova nos braços de uma mulher.

(...)

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Este tal Carnaval

me dá um asco que, nossassenhora, puta-que-o-pariu, eu nunca vou entender de todo muito bem.



Edit; minutos depois:

Fogo vermelho; o canvas completo de borrões de tintas com não mais que impressões de formas e impressões de gente e impressões de momentos. Confete por todo lado, do chão de papel barato pintado picado ao espaço aberto em queda seca pra pontilhar a vista feito um rápido delírio, talvez uma explosão rápida do dilatar da retina ou quando os cones s'atrapalham no impacto da subida da última tequila e assim vai, assim vai -- assim vai passar pela avenida bloco animado, fotografado em película com rastos de movimento constante, feito um único corpo [com claros pontinhos de união, verdadeiramente falando] em espasmo de, álcool! álcool! á-al-co-ol?

A pocavergonha é a forma como já s'entra pensando na história, é como sair para escrever um livro de contos onde toda história tem que ter uma anedota, uma tragédia, um romance; e se todo momento precisa de um clímax e, derrepente, o clímax vai arrastando e estendendo sem encontrar fim, é tudo uma questão obtusa de mentira, quando somos dúbios na felicidade [e rezoadeus um juízo último onde queima-se os pecadores], devorados como carne pela necessidade de uma com-v-maiúsculo Vida tão próxima do cerne, fazendo do povo tão medíocre tentativa de ser original, de ser vivo e pulsante, pegando o tempo apenas para descobrir que o orgulho qualquer de huminadade é de menos humanidade possível; e tudo isso é besta porque quem liga para livros quando o importante é plantar as árvores.

...

Eu quase podia jurar que isso faz sentido.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

counted minutes

Fzz made the electric lightning that connected the plug to the guitar, as instant fuzz of white noise. No special need to touch the strings, the sound floated of itself, fingers, if anything, only channeling the music already there like an old radio capturing both poetry and static.

It - this pure sound -, which I found so effortlesly around, laying its own way concretely leaving no space space-free, was a sound found everywhere for as long as I've been alive. I don't recall when I first heard it, only that my first memory was of finding in it as much familiarity as I find in it now. It goes back to the early 90's, as my music-adoring cousins [I was, back then, nothing short of a musicless person; not particulary soulless, nor godless, but as an infant, I couldn't care less for faith or anything close to metaphysical; therefore, I couldn't care less for music] spend their afternoons of boring no-beach days around my grandpa' TV set watching vigorously what was new on MTV. I found it again as I came of age, in the realization of filosofical matters that made me a lot more eager to devour sounds as a mean of transcience, taking a back step to more knowledge then surfacing more and more inbetween songs until I heard songs only because I knew that I would find it there. I met it, in the last place where it marked a great change, on my girlfriend's ipod, riding the bus, hiding so profoundly on whatever her music is that its discovery could prenounce nothing but love. Now, this was not the only places I found it. In the right mood, of spirit or company, I've heard it even on the woods, blown by the wind to my ears, where it settled confortable and meaningful; the same way, it came on insone nights, as the dusk was drawing near and sleep seemed so far off - I wonder, halfway this line, where everybody I know should be at the time... - to make place for dreams; is was on the right set of arms, on the right ways of nights; it was soaked with good memories, and making light of the bad thoughts that make me monstruos and of the recollection of long-dreamed nightmares.

I met it again tonight, as a friend of ages ago, warming me up with everything I desired.

Wait.

With everything I desired - with, I dare to say, happiness - while I'm alone.

It's funny stuff, my man.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

casa

Chegou banhado de fumaça de cigarro, amou a mulher uma última vez e, retendo no peito as mãos espalmadas sobre o coração, propôs a Deus uma visita mesmo que breve para admirar sua miséria; viu o quarto em rodopios balésístico de cachaça barata e, torcendo-se gato nas cobertas, adormeceu sem banho até o fim tão breve da madrugada.

Como manso, no amor primeiro, ele aproximou o nariz da nuca desnuda e cheirou-lhe suave o perfume gasto, já misturado com um azedo de suor, num gesto casto de adoração, antes de liberar-se das roupas e lavar-se com ela ao acompanhar a pele desnuda e as superfícies macias e os pêlos rebeliosos com as mãos, encaixando como que por vez única já dessentimentalizado e em causas de cunhos carnais.

Era sempre o número dobro de doses depois para ir embora do que o primeiro terço para coragear o ninar nos braços. O jeito apropriado das calçadas era iluminado pelos postes de clareio laranja, luziando seu corpo e sombreando as paredes com silhuetas amorfas que, cachaceado, ele poderia jurar ser a de um cachorro. Ele tomou lições de soluço na primeira esquina.

(...)

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

rascunho

No apogeu do inverno, despencou uma brisa suave que incandesceu a chama por mais momento, irradiando um calorzinho de meio sem força, desses que parece a aproximação lenta dela ao repousar a cabeça no seu colo, cobrindo-se com esse frio meio sem graça que os fez puxarem ao outro para mais próximo e acasularem-se nas cobertas, acovardados do mundo lá fora. Ela lhe deu daqueles olhos preguiçosos, recém-despertos ainda embotados de sonho fundo, escalando até o peito e s'esticando para beijar-lhe o queixo num silêncio confortável, e se sentiam nus e entre as cobertas pesadas -- não muito mais tarde, os olhos dela laminaram-se feito metal, desfocaram no horizonte antes dela me retornar inteira com um sorriso agradável e perceberam-se quase por todo desperto e cedo cedo haviam raiado como o dia.

"Não, mãe, tá tudo bem aqui."

Foi apresentado à razão nos olhos dela. Tanto tempo passado e tanto tempo agora e tanto tempo depois fez deles tão íntimos que, mesmo tão agora, o silêncio entre eles não parecia mais empecilho para a mensagem. Nos olhos dele viu que era por amá-la que a esperava terminar a ligação, dando-a a valiosa consciência de últimas palavras e duma despedida; nela, superficiando a íris, o reflexo do cano da arma apontado para o meio da testa. Ele pôs o telefone de lado Te amo mãe manda um beijo pro pai e com um sorriso dele a cabeça dela estava espalhada por toda a sala.

De todas as coisas que aconteceram, porém, a que veio mais como surpresa foi no abrir dos novos olhos ver-se repousa diante de Osiris. Sobre seu ombro, a cabeça empoleirada de Horus; mais como pássaro que deus, ele virou a cabeça de penas e bico pontiagudo, mirando-a com o azul fundo do único olho ainda inteiro, outro cego por um vermelho coagulado, prestou reverência ao pai e, após ter buscado pessoalmente a alma da mulher até o paraíso, farfalhou as asas na abertura e voou embora.

Anubis adentrou os aposentos reais com pressa, tinha jeito selvagem e um brilho cirúrgico nas retina de chacal, abaixou-se até a mulher, meteu-lhe as mãos nos ombros e a pressionou com força até o chão. O fucinho dilacerou-lhe o peito com violência e mordiscando o coração que batia arrancou-lhe entre filetes de sangue límpido para carregá-lo até a balança dourada aos pés de Osiris. Dum lado, uma pena, do outro, o coração da mulher.

A balança pendeu suave para o coração, movendo devagar até tocar o fundo. Anubis feito animal encarou a moça -- tão débil no chão, de imagem fraca e peito aberto, viva como que pela já morte -- com curiosidade, então com fome. Feito eco de trovão num cânion largo, a voz de Osiris em seu Por quê fez suspender todo o resto e desencadeou os rosnares de Anubis "Ela carrega no coração o perdão dum assassino". Osiris desapontou-se. Fechando as mandíbulas sobre a clavícula e trazendo consigo o coração, o cabeça-de-chacal atirou a moça dos altos às águas do rio, onde ela foi feita banquete dos jacarés até tornar-se lama do Nilo.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Atestando sua materialidade contra a luz! Era silhueta bela e esbelta, dumas curvas tão suaves e absurdas e as mãos como carrinhos pelas dunas de pele bem rápido e rápido e depois lento e demorado aproveitando a queda e a gravidade preguiça e saudade, até atunelar-se entre as pernas além mundo interno cada vez mais profundo e profundo até amar pelo aveso mesmo ele tão aveso aos sentimentos e era assim e grãos ao vento esperando cair por terra e germinar germinando grandes árvores e tu-tu-tu-tu-tudo era novo e fascinante, os olhos tão poucos para absorver tanta informação que a informação fluía em afluentes pelo corpo e pelos olhos e beijinhosbeijinhos de despedida de cansaço de banheiro de rio de janeiro de nada mais que despedida e como fome veio o desejo de ter na boca algo de mastigar e engolir de sentir os sucos e os sabores, impedindo que as coisas se mantessem cabeçaacabeça onde estavam já tão distantes na proximidade sufocante que foi então necessário, primeiro em segredo mas seguido de um extrapolar gritante, ser um.

Ela repousou a cabeça n'ombro dele e dormiram o resto da noite. O gosto do/pelo escuro.