Estendo-lhe a mão numa demonstração inexperada de minha, até então inexistente - deveria dizer latente -, solidariedade. Os dedos opacos, frios, finos - me lembram a morte. Mesmo, não o digo só por crueldade! - tocam leves minhas palmas calejadas, seguram-se sem forças em minhas mãos, mas então caem, escorregam-se pelo molhado da água, e seu corpo explode em borbulhas e espumas e ondas no translúcido azulado da piscina. Vejo-lhe a face retorcer-se dentro d'água, seus olhos refratando monstruosos no terror de seu afogamento, as lágrimas unindo-se ao cloro, seu grito em bolhas mudas e então - o frio, sua natureza naturalmente cadavérica: os prenúncios que eu temia serem de meu fim, mostram-se tragicamente tratarem-se do seu próprio -, vendo a lua espelhada n'água, procurando seus olhos no emaranhado sufocado do seu cabelo, e aproveitando candidamente o silêncio súbito, respirei aliviado.
Antes você,
Minha doce amada,
Do que eu.
Minha doce amada,
Do que eu.