Ela atingiu-o num relance por através da vitrine, no momento único em que olhava o lado - e virar do rosto lançasse os cabelos ao distante revelar da face - seus olhos vendo, na exata e dramática hora, o tropeço dum infante gordinho, em futuramente envergonhantes meias até as canelas e suspensórios, que vinha em ruidoso estabaco ao chão; fez-se nela um sorriso impactante e caloroso, acendendo as feições com tal luz que beleza tanta o mundo 'inda não o revelara. Perdendo as costas dela no maremoto de gente andante pela rua, escapando um suspiro discreto que anunciava seu apaixonamento - ele sentia em si nascer um certo charme de amante, talvez -, tomou nas mãos uma caneta e um guardanapo e resolveu, certo que estava, que a presentearia com um poema. Este deveria, claro, ter ao menos um nisco de ácido - ela não seria sequer tão apaixonante antes risse de flor, gato, ou gracejo de estranho -, era, afinal, o pouco de vil emcantinho de sorriso que a deu toda graça, feito duma caligrafia fina de suavidade, mas de por propósito um A descruzado ou I despingado, para o aleatório do erro compor inebriante ar de descaso, de poeta compremetido antes de tudo à arte e ao mundo, mais ao amor que à ela, que mulher alguma nesse mundo tem como resistir.
Percebeu, mal tempo havia de romper um verso primeiro na branquitude do guardanapo, que nas costas da multidão não conseguia distinguir a forma dela, suave e bela, quiçá negra, e o abortado poema, por mais sentido fosse, não acharia a destinatária nem que dela houvesse o cheiro (por certo de madressilvas) a ser seguido. Viu, assim, as costas vazias dum cardápio e, logo, nele marcou para sempre o seu amor: veja que, se seus dotes permitissem retratá-la com alguma fidelidade num rascunho simples mas memorável - os garçóns e assíduos frequentadores s'acostumariam aquela imagem e, após ler o relato apaixonado (que segue), tomariam parte na incessante busca pela desaparecida moça de seus sonhos, mesmo que sem querer, e ao dia que ela fosse avistada por quaisquer deles, iria ao café, buscar o telefone anotado num cardápio feito carta de amor, ou encontrar, fosse o destino existente, doce e, ao mínimo, complacente, ele próprio de carne-e-osso, sentado com seu café e seus olhos aquém do mundo, uma vez que só brilhariam novamente ao mirar dela a face, e enfim conhecer-se para um romance cujo fim seria, pelo menos, a tentativa.
Isso posto, começou: "De ti, a mim não coube mais que uma furtiva vista, da qual não posso esquecer, tamanha a clareza que acometeu o meu afeto. Sigo, por um momento, triste - posso possuir tal beleza apenas nos meus sonhos; mas a dormir, temo os próprios, já que não tenho garantias de que me visitarás durante o sono. Se há, no mundo, um amor tão simples, é este o meu: de um súbito olhar, ao fim desta linha, diria, tão certo estou de minha loucura, que te amo." e pôs nome e um desenho, que ficou justo, quase digno da inspiração. Largou o cardápio desentendido, pagou o café, e foi para casa.
Percebeu, mal tempo havia de romper um verso primeiro na branquitude do guardanapo, que nas costas da multidão não conseguia distinguir a forma dela, suave e bela, quiçá negra, e o abortado poema, por mais sentido fosse, não acharia a destinatária nem que dela houvesse o cheiro (por certo de madressilvas) a ser seguido. Viu, assim, as costas vazias dum cardápio e, logo, nele marcou para sempre o seu amor: veja que, se seus dotes permitissem retratá-la com alguma fidelidade num rascunho simples mas memorável - os garçóns e assíduos frequentadores s'acostumariam aquela imagem e, após ler o relato apaixonado (que segue), tomariam parte na incessante busca pela desaparecida moça de seus sonhos, mesmo que sem querer, e ao dia que ela fosse avistada por quaisquer deles, iria ao café, buscar o telefone anotado num cardápio feito carta de amor, ou encontrar, fosse o destino existente, doce e, ao mínimo, complacente, ele próprio de carne-e-osso, sentado com seu café e seus olhos aquém do mundo, uma vez que só brilhariam novamente ao mirar dela a face, e enfim conhecer-se para um romance cujo fim seria, pelo menos, a tentativa.
Isso posto, começou: "De ti, a mim não coube mais que uma furtiva vista, da qual não posso esquecer, tamanha a clareza que acometeu o meu afeto. Sigo, por um momento, triste - posso possuir tal beleza apenas nos meus sonhos; mas a dormir, temo os próprios, já que não tenho garantias de que me visitarás durante o sono. Se há, no mundo, um amor tão simples, é este o meu: de um súbito olhar, ao fim desta linha, diria, tão certo estou de minha loucura, que te amo." e pôs nome e um desenho, que ficou justo, quase digno da inspiração. Largou o cardápio desentendido, pagou o café, e foi para casa.