sábado, dezembro 04, 2010

as estrias de maria

(de 04 de dezembro de 2008)

Estava, de fato, na perseguição implacável de um único momento retomado em'inha memória, de fogo fátuo, quando posta ao espelho alisava a recém-feita barriga. Tinha jeito suave de esticar a pele, correr pelas marcas, contornar as estrias com a ponta dos dedos. Desejosa, via nos olhos lágrimas que teimariam em brotar?, porém quieta, não me reclamava nada, sequer nada dizia; pelo contrário, entregava-se a isso sempre quando ia-me longe e a solidão caia-lhe como coberta ou proteção.

No deitar sobre o meu corpo, no abraço dos meus braços, quando fazia-me do ombro travesseiro ao reclamar de todo cansaço e sono dos dias, afastava minha mão quando era alcançada a barriga, cobria-a novamente com a camisa do pijama e pedia-me sossego. Cruel, cruel, ignorando a forma como me havia dedicação e saudade nas mesmas linhas que a desconfortavam, calava-me apenas pela beleza que ela apresentava, agora clara como das mais cristalinas; isso e pela marginalidade da minha adoração, quando ela dorme profunda e eu acordo, como que despertado por mágica, tamanha a pontualidade, e ergo quieto as cobertas, escapo pela camisa, e dedico um único beijo ao umbigo meu.

Era tudo muito secreto, de todo escondido. Havia, por isso, graça das maiores no quão sigilosos nós éramos. Silenciosos, porém, fazíamos do barulho um caos e, na minha furtividade, o murmúrio do mexe-mexe nas cobertas me sobressalta, e escapo antes que desate o escândalo. Debruçado sobre o berço, busco-a no colo quando ela arrisca um choro, co'esse jeito de se franzir toda tão puxado da mãe, mas se cala no meu abraço por mais um pouco, deixando o resto da casa dormir.

3 comentários:

  1. esse é o último texto planejado para esse blog.

    sei que é um texto velho, mas foi assim que eu vi esse momento há alguns meses e, talvez, não veja o mesmo significado que via então, mas vou ser honesto com essa minha intenção inicial. acho que nessa época, entre final de 08 e começo de 09, que eu escrevi melhor, ou tinha o estilo mais bem definido - embora eu tenha conscientemente o deixado porque ele se tornava cada vez mais hermético e impermissível (a mim); nesse texto, por exemplo, não se diz que Maria é o bebê, mas não vejo como esclarecer isso sem afetar o ritmo, e ritmo acima de tudo: que a história deixe as palavras serem e cada um perceba como quiser (sei que explicando não permito isso, mas enfim).

    escrevi muito recentemente que não existe fim, encerramento, ou morte em nenhuma escrita afetiva, mas chega um ponto onde ela deve ser abandonada para existir como é. o hahiho, esse hahiho, é uma coisa muito fofa, com sua história e seu retrato de quem eu fui, muito superficialmente, nesses últimos quase quatro anos, e me guardo o direito de retomá-lo quando eu bem entender, o que eu provavelmente vou fazer um dia. mas, hoje, isso é uma despedida, muito tímida e sem nenhum alarde, para que ele solidifique nessa forma quieta e pare de crescer.

    não estou propenso a dramas, porém, e isso não é um adeus. quem veio lendo isso (e que se importa em me ler) achando que agora nunca mais, ando escrevendo minha prosa lá, e assim continuarei: ohihah.wordpress.com

    aqui ficam os que ficam e lá esperam os que vêm.

    ...

    enfim, agora tento fazer um pouquinho de silêncio aqui, shh.

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  2. Tais escrevendo noutro lugar há tempos, e nem pra avisar? O teu blog inspirava-me a escrever o meu.

    Agora já não sei mais, sem mais.

    Tô triste, triste, odeio despedidas, mas a vida é feita de ciclos. Você virou vapor abafado de verão, e eu chuva.

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  3. eu até queria deixar um comentário...
    mas a moça aí de cima conseguiu tudo.
    dizer tudo o que eu queria.
    "tô triste, triste, odeio despedidas"
    ...
    e aqui eu sou só o guarda-chuva de alguém que não quer se molhar, mas não consegue.

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