domingo, setembro 05, 2010

your protector

E ele trouxe flores brancas que ela guardou em um vaso sobre a mesa e, semana antes dele voltar uma outra vez, o vento já tinha levado cada uma delas e espalhado suas mortes pelo chão.

Ele chegou, então, entrando pelo escuro da casa, e a luz do lado de fora tinha acendido cada um dos pedaços brancos, o sol dando uma última vida frágil às plantas. Procurou no vaso a água limpa e não disse mais nada. Varreu todas e deitou-as no jardim.

Ela chegou, entrou na casa e cobriu a boca com a mão; seus olhos de lágrimas dúbias - seus retalhos de jardim consumidos e desprezados, mas só pôde entressuspirar: "Amor?". Ele surgiu primeiro pelos olhos acendidos pela sombra, depois num sorriso e então a sobrancelha erguida; estavam os dois presos a um beijo bem vindo e mórbido, até ela sussurrar ao pé da orelha "Cuidei delas com tanto carinho...".

Ele a empurrou longe com as mãos, colocando-a nos olhos; via-a triste e queria cuidar dela, mas ela virava o mar da vista em vergonha. Quis contar a ela da desimportância das coisas, que as flores são flores e só, que a morte é inevitável; quis contar que teve medo de beijá-la uma noite e sentir sua carne sumindo de seus lábios, vê-la se desenhar em uma outra mulher estranha, de linhas tortas e reflexos opacos; que imaginou valsar ela por um palco de saudade, e soprar nela o ar de vida que enchia seus pulmões quando ele a tocava. Engasgou.

Disse só: "És uma tola" e a abraçou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário