Por que você nunca escreveu sobre mim, ela perguntou com olhos ainda cansados sobre uma xícara de café fumegante.
Ele só conseguia sentir o cheiro do café, que dissipava o cheiro dela. Naquele momento, ele nem sabia se ainda...
Porque eu não poderia te desejar mais, você não pode voltar a ser platônica, ele falou. O domingo entrava úmido pela cortina entreaberta, com o céu acinzentado de um jeito que sempre o fazia se sentir estranhamente vivo, podendo ficar em casa sem fingir ser feliz.
Mas você escreveu sobre todas as outras, ela insistia, com a xícara na mão. Ela nem estava tomando o café e isso o irritava um pouco. Ele se virou para não ter que vê-la e resolveu encarar o domingo em exposição na janela.
E nenhuma delas foi minha de verdade. Nenhuma delas sequer existe, elas podem ser qualquer coisa, recatadas ou putas e eu não saberia dizer, porque para mim elas são todas iguais. São todas apenas palavras.
Eu gosto das suas palavras.
Ele tomou um gole de café, sabendo que o dela esfriava na mesa. Queimando a garganta, ele sentiu quando o líquido despejou-se sobre o estômago totalmente frio. Eu sei e agradeço, ele falou vendo como a manhã despejava-se lenta sobre o mundo às 8 horas, mas eu não posso amá-la e beijá-la e escrevê-la.
Eu prefiro suas palavras aos seus beijos.
Ele sorriu, percebendo que no reflexo do vidro ela o olhava sem tocar o café. E ele não precisava mais fingir que era feliz.
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